O álcool exerce dois efeitos
antagônicos sobre a aterosclerose, sua ação benéfica ou maléfica depende da
dose. Muitos estudos têm sido feitos para desvendar os mecanismos dessas ações
e o limiar em que o álcool passa de benéfico para maléfico. Exatamente por esse
papel dúbio, deve-se ter cuidado ao adotar seu consumo com a finalidade de
obter benefícios contra essa doença.
Do ponto de vista dos benefícios obtidos pelo consumo do
álcool sobre a aterosclerose, em taxas moderadas ele pode: elevar a
concentração de HDL-C e atuar sobre a homeostasia, reduzindo o fibrinogênio e
inibindo a agregação plaquetária. Existem muitas controvérsias acerca da
atuação de cada tipo de bebida alcóolica sobre a aterosclerose. No entanto, alguns
autores já relataram a redução de 26% nos riscos dessa doença em homens que
consomem de 5mL a 30mL álcool/dia (350mL de cerveja, 30mL de bebidas destiladas
e 100mL de vinho) quando comparados com abstêmios. Além disso, outros estudos
mostraram que essa redução ocorre até atingir um limite , depois do qual passa
por uma estagnação, e sequente elevação do risco de forma vertiginosa.
Já os efeitos negativos do consumo de álcool devem ser
considerados principalmente em indivíduos propensos à hipertrigliceridemia, ou seja,
a alta ingestão de álcool pode levar a um aumento dos níveis de triglicerídeos
pela estimulação de VLDL pelo fígado. Ademais, o álcool pode levar ao aumento da
pressão arterial, do peso corporal, da glicemia e provocar alterações
gastrointestinais, tais como cirrose hepática, câncer de pâncreas e
insuficiência múltipla de órgãos e sistemas.
O álcool também exerce uma importante influência sobre os
citocromos P450. Genericamente, os citocromos P450 são heme-proteínas que
possibilitam a biotransformação de compostos de origem endógena e exógena. Ao
modificar, por exemplo, uma molécula exógena lipofílica, eles a tornam mais
solúveis e de mais fácil excreção. Entretanto, alguns moléculas, ao sofrerem
essas modificações, se tornam muito reativas, podendo prejudicar o organismo,
através de danos teciduais por exemplo.
O consumo abusivo de álcool pode levar a ativação da via
do citocromo P450. Nesse citocromo, o etanol ingerido é convertido à
acetaldeído as custas de NADPH e O2. O NADPH é fonte de elétrons, que por sua
vez são consumidos na quebra do O2. Essa quebra gerará, então, duas moléculas
de oxigênio, a primeira será usada na oxidação do etanol e a segunda na
produção de H2O. Nesse processo, ocorre a produção de radicais livre e o NADPH
é oxidado. Essa oxidação o impossibilita de realizar a regeneração do
antioxidante tripeptídeo glutationa, potencializando o estresse metabólico. Outra
consequência do consumo excessivo de álcool está na diminuição do antioxidante
vitamina E, o qual já teve sua importância salientada em post anterior.
Apesar de serem apresentados dados importantes acerca dos
possíveis benefícios do consumo moderado de álcool, a Sociedade Brasileira de
Cardiologia, através de seu departamento de aterosclerose, formaliza a não
recomendação do consumo de álcool para prevenção de aterosclerose na “III diretrizes
brasileiras sobre dislipidemias e diretriz de prevenção de aterosclerose.”
Fontes:
Santos, Raul et
al. (2001), “III Diretrizes
Brasileiras Sobre Dislipidemias e Diretriz de Prevenção de Aterosclerose”. Arquivos
Brasileiros de Cardiologia, vol. 77.
Lemos, Anderson e Trindade, Emilia, “Interferências no efeito farmacológico mediada
pelas biotransformações dos citocromos P450”.
http://bioradicaislivres.blogspot.com.br/2012/06/as-consequencias-radicais-do-alcool.html
Acesso em 13/07/2013.
http://desarrollo.ut.edu.co/tolima/hermesoft/portal/home_1/htm/cont.jsp?rec=not_2039.jsp
Acesso em 13/07/2013.
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