segunda-feira, 15 de julho de 2013

Sal e Hipertensão

            Por muito tempo acreditou-se que o sal era um dos maiores vilões de doenças cardiovasculares. No entanto, a recomendação de se reduzir seu consumo não tinha como prova experimentos práticos, possibilitando a existência de uma controvérsia nesse assunto. Estudos recentes indicam que uma redução muito grande do consumo de sal pode até potencializar fatores de risco de doenças e ser prejudicial à saúde.
            Uma reportagem do The New York Times revela a magnitude dessa discussão e mostra fatos que compravam que ela está longe de atingir um consenso. A maioria absoluta das entidades médicas recomenda o baixo consumo de sal, já que acreditam que esse é prejudicial ao organismo e pode provocar piora de doenças. Essa reportagem mostra exatamente a faceta oposta dessa discussão. Renomados médicos internacionais vêm questionando a validade dessa recomendação e sugerindo novas “verdades”.
            Em 2008, um estudo realizado em pacientes italianos constatou que aqueles que ingeriram muito pouco sal tiverem mais de três vezes o número de readmissões hospitalares e o dobro de mortes quando comparados aos que ingeriram alta quantidade de sal.
            Outro estudo, publicado em 2011, constatou que o risco de ataques cardíacos , acidente vascular cerebral, insuficiência cardíaca congestiva e morte por doença cardíaca aumentava muito em pessoas que consumiam mais de 7.000 miligramas e menos de 3.000 miligramas de sódio.
            O que acontece na verdade é que com um consumo baixo de sal, nós estamos prejudicando a nossa saúde, ao invés de ajudá-la. Por que? Bom, ao contrário do grande consumo de sal, que faz com que o corpo aumente a reabsorção de água, e consequentemente aumente a pressão sanguínea, quando o consumo de sal é baixo, o corpo tem uma alta resposta de renina para contrapor esse quadro.
            Como já vimos, a renina aumenta a reabsorção de sódio nos túbulos contorcidos distais e ducto coletor dos néfrons, e essa absorção de sódio, como já vimos também, acaba ativando a reabsorção de água, e isso causa uma resposta semelhante ao que ocorre ao grande consumo de sal, ou seja, tem-se um aumento da pressão arterial.
            Bom, o que se sabe é que nem tudo em excesso faz bem da mesma forma que a falta também não faz. Isso é o que comprovaram com esses estudos, que o ideal para não se correr riscos é a faixa considerada normal de consumo, até porque se tem que essa faixa não é determinada por fatores dietéticos e sim por fatores fisiológicos.

            Outra coisa bastante explorada pelo ensaio é o conceito de até aonde vai os efeitos da redução do consumo de sal, se ele levaria a uma prevenção de uma doença crônica ou era um efeito apenas imediato. O que se sabe é que enquanto não houverem provas conclusivas do que de fato é bom ou não no consumo do sal, a regra de baixo consumo para diminuição da pressão arterial vai permanecer.

Fontes:

Colaboradores:
Débora Rosa Fonseca e Armindo Jreige

domingo, 14 de julho de 2013

Sistema Calicreína-Cinina

        O sistema Calicreína-Cinina é um sistema de proteínas sanguíneas que desempenham ações na inflamação, controle da pressão sanguínea, coagulação e dor. Os mediadores bradicinina e calidina são vasodilatadoras e agem em muitas tipos de células do organismo.
            Nesse sistema, o fígado produz pré-calicreinas, que darão origem as calicreínas plasmática e tecidual. A ativação dessas calicreínas ocorre pelo fator de Hangeman ativo, o qual pode ser ativado pelo contato do sangue com a superfície artificial do circuito da circulação extracorpórea. Essas calicreínas são proteases que atuam sobre o cininogênio (produzido pelo fígado), liberando as cininas, que são a bradicina (formada no plasma) e a calidina (formada nas glândulas endócrinas e exócrinas e também nos rins).

As cininas possuem receptores B-1 e B-2, que é predominante. B-1 só é ativado quando ocorre lesão nos tecidos, como em inflamação. Logo, a ação vasodilatadora das cininas ocorre principalmente pela ativação dos receptores B-2, que estão na superfície da células endoteliais, e que também liberam prostaglandinas e oxido nítrico, os quais são vasodilatadores.
Então, as cininas são vasodilatadoras (atuam na regulação da pressão arterial, a fazendo diminuir), natiuréticas (atuam na homeastease do sódio, fazendo com que mais sódio seja eliminado na urina) e moduladoras do crescimento vascular (atuando no tônus vascular). Além disso, as cininas possuem meia vida curta, sendo inibidas rapidamente pelas cininases I (produzida no sangue) e II (superfície das células endoteliais).
Uma relação importante ocorre entre esse sistema e o sistema renina-angiotensina-aldosterona. Isso ocorre já que a cininase II, enzima conversora de angiotensina (ECA), atua na síntese de angiotensia 2 (produto final do sistema renina). Quando ocorre maior concentração de ECA, tem-se então mais angiotensina e menos cinina. Isso potencializa a ação desses sistemas: o sistema renina atua na reabsorção de sódio, elevando a pressão arterial; o sistema calicreína-cinina atua na regulação da água e do sódio, diminuindo a pressão arterial.


Fontes:
Brasil, Luiz Antônio; Gomes, Walter José; Salomão, Reinaldo; Fonseca, José; Branco, João e Buffolo, Enio (1999), “Uso de corticóide como inibidor da resposta inflamatória sistêmica induzida pela circulação extracorpórea”. Revista Brasileira de Cirurgia Cardiovascular, vol.14.

Imagens:

Sistema Renina-Angiotensina-Aldosterona

O sistema renina-angiotensina-aldosterona é um dos principais meios de regulação do volume sanguíneo, e atua conjuntamente com o sistema da vasopressina.
Inicialmente, o sistema  é ativado quando a quantidade de sangue que chega nos rins é baixa, ou seja, a pressão arterial é baixa. Essa fato é identificado pelas células do aparelho justaglomerular, que possuem características de mecanorreceptores e a mácula densa de osmorreceptores. Essa ativação faz com que a renina seja liberada na corrente sanguínea.
A renina é a enzima responsável pela conversão de angiotensinogênio em angiotensina I. A angiotensina I tem a capacidade de inibir um vasodilatador (bradicinina) e ativar um vasoconstritor (angiotensina II). A conversão de angiotensina I a angiotensina II se dá por meio da ECA (Enzima de Conversão da Angiotensina). 
A angiotensina II é um dos mais potentes vasoconstritores do corpo e sua atuação pode se estabelecer por meio de dois receptores: AT1 e AT2. Em AT1, a angiotensina se acopla ao receptor, e este ativa a proteína G. A proteína G ativa a fosfolipase C que cliva um fosfolipídio de membrana gerando IP3. Como já vimos anteriormente, o IP3 provoca a entrada de cálcio no meio intracelular, e essa entrada inicia a ativação da contração muscular. AT2 tem um efeito oposto ao do AT1, logo provoca vasodilatação e induz a liberação de óxido nítrico.
Dentre as atuações da angiotensina, além da vasoconstrição, é a indução de liberação de aldosterona para sua atuação nos rins. A aldosterona é produzida a partir de colesterol, numa via que se mostra a seguir:


Como vemos, a síntese de aldosterona é semelhante no seu início com a produção de hormônios sexuais. Por isso, um remédio que atua nessas vias no início comum a síntese deles, afeta também a produção de aldosterona.
A aldosterona atua nos túbulos contorcidos distais e ductos coletores dos néfrons diretamente na ativação da bomba de Na+ e K+. Simplificando, essa bomba tem a função de reabsorver o sódio e excretar o potássio, já que o sódio é essencial para a regulação da pressão arterial.
Logo, temos a seguir o esquema que resume o que foi explicado nesse post:




Fontes:
http://www.fisiologiaufs.xpg.com.br/apostilas/sistema_renina_angiotensina.pdf
http://revista.hupe.uerj.br/detalhe_artigo.asp?id=90

sábado, 13 de julho de 2013

Prevenção e tratamento da aterosclerose



          Posts anteriores explicaram detalhadamente a aterosclerose, bem como sua relação com outros fatores. Ela é, de fato, uma doença muito perigosa que pode atingir grande parcela da população.  Desse modo, sua prevenção é essencial e deve ser buscada por todos.
            A prevenção consiste, basicamente, em levar uma vida saudável em vários aspectos: não fumar ou usar tabaco, praticar exercício regularmente, manter um peso saudável, dieta com baixo teor de colesterol, não consumir exageradamente álcool, dentre outros.

            O tratamento para a aterosclerose terá o objetivo de combater a placa de ateroma, estando ela já formada ou em formação. A retirada pode ser feita, por exemplo, por cirurgia, cateterismo e angioplastia. Além disso, pode ser adotado um tratamento medicamentoso associado a mudança no estilo de vida. A retirada da placa de ateroma formada normalmente não livra o paciente da doença, já que se essa placa foi capaz de se consolidar, ele apresenta risco para formação de outras (que podem estar até em formação constante). Assim sendo, deve-se analisar a necessidade de medicamentos e ocorrer uma mudança no estilo de vida.

            Dependendo da finalidade do tratamento medicamentoso, medicamentos específicos são indicados: inibidores da enzima conversora da angiotensina (ECA) para baixar a pressão arterial e proteger coração e rins; aspirina para prevenir a formação de coágulos nas artérias; betabloqueadores para reduzir os batimentos cardíacos, baixar a pressão arterial e o consumo de oxigênio pelo coração; bloqueadores de canais de cálcio que relaxem as artérias, baixam a pressão arterial e reduzem a tensão no coração; diuréticos para baixar a pressão e tratar a insuficiência cardíaca; nitratos para aliviar a dor no peito e melhorar o fluxo de sangue para o coração, estatinas para reduzir o colesterol .

Fontes:

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Tabagismo e aterosclerose



       Um dos mais importantes fatores de risco da aterosclerose que é passível de ser controlado é o fumo. O tabagismo, devido a composição das toxinas do tabaco, causa agravamento do quadro da aterosclerose. Além dos vários maléficos que a prática de fumar traz para o organismo, esse agravamento é mais um fator que incentiva os fumantes a abandonarem essa prática.
De uma maneira geral, as toxinas do tabaco diminuem a quantidade de HDL[1] e aumentam a quantidade de LDL do organismo. Além disso, a nicotina[2] e o monóxido de carbono, presentes no cigarro, danificam o endotélio, podendo iniciar a formação da placa de ateroma. O fumo também contrai as artérias que já estão estreitadas pela presença da placa de ateroma e aumenta a tendência do sangue coagular.
Uma outra relação importante está nos radicais livres contidos no fumo do cigarro. Esse fumo contém, basicamente, dois tipos distintos de radicais livres: o complexo quinone/hydroquinone (Q/QH2) e pequenos radicais oxygen-centered e carbon-centered .
O complexo quinone/hydroquinone está presente na fase de alcatrão e é um sistema redox ativo que pode reduzir a molécula de oxigênio, formando superóxido (eventualmente pode levar a formação de peróxido de hidrogênio e radicais hidroxila). O aumento da quantidade de superóxido leva a inativação do óxido nítrico, prejudicando sua ação vasodilatadora.

 Os pequenos radicas oxygen-centered e carbon-centered estão presentes na fase gasosa; eles são mais reativos do que os presentes na fase de alcatrão e são produzidos pela oxidação de NO em NO2, que por sua vez reage com as espécies reativas do fumo, como o isopreno. O radical carbon-centered reage rapidamente com O2 para gerar lipid peroxyl radical, o que propiciará a oxidação de lipídios e consequente progressão da formação da placa de ateroma.

Sendo o fumo um dos mais relevantes fatores de risco da aterosclerose, é interessante conhecer os resultados do seu abandono. Estudos relataram que pessoas que deixaram de fumar tiveram uma redução de 50% do risco em comparação aos que não pararam, independente do período em que elas fumaram.

[1] HDL: High Density Lipoprotein, transporta colesterol dos tecidos do corpo humano ao fígado.
[2] A nicotina estimula a liberação de catecolaminas, que por sua vez estimula lesões no endotélio arterial.

Fontes:
Church DF, Pryor WA (1985), “Free-radical chemistry of cigarette smoke and its toxicological implications”. Environ Health Perspect 64:111-126.
Pittilo, Michael (2000), “Cigarette smoking, endotelial injury and cardiovascular disease”. International Jounarl of Experimental Pathology 81:219-230.
Stocker, Roland e Keaney, John (2004), “Role of oxidative modifications in atherosclerosis”. American Physiological Society, vol.84 nº4, 1381-1478.
Imagens: