quarta-feira, 3 de julho de 2013

Fator Natriurético Atrial


Como foi dito em postagens anteriores, o cGMP (GMP cíclico) é um importante mensageiro bioquímico, capaz de induzir várias mudanças nas células. Sua produção só ocorre caso a enzima chamada guanilato ciclase esteja ativada. Nos rins, essa enzima é ativada especificamente pelo hormônio peptídico Fator Natriurético Atrial (FNA), o qual é produzido pelas células do átrio direito do coração[1] quando este órgão encontra-se tensionado pelo aumento do volume de sangue. A maior concentração do nucleotídeo nos rins altera o funcionamento dos canais iônicos dos néfrons, o que induz o aumento na excreção de sódio e também de água (esta última movida pela alteração da osmolaridade/pressão osmótica). A maior excreção de água reduz o volume sanguíneo, diminuindo a pressão exercida sobre o coração, opondo-se, assim, ao estímulo que produziu a secreção de FNA.
Outro fato interessante é que os músculos vasculares possuem também receptores de guanilato ciclase para FNA. Nesse caso, o hormônio, depois de ligado ao receptor, induz a vasodilatação, o que aumenta o fluxo e diminui a pressão sanguínea. Assim, a ação para reduzir a pressão do sangue sobre o sistema cardiovascular é conjunta.

Até hoje foram identificados dois tipos de receptores para FNA, sendo todos eles localizados na superfície da membrana celular. São NPR1 (ou NPRA) e NPR3 (ou NPRC) -NPR é a sigla, em inglês, de receptor para peptídeo natriurético. O tipo 1 possui um único segmento extracelular que se liga ao peptídeo e dois domínios catalíticos para a atividade da guanilato ciclase. A ligação do hormônio produz mudanças conformacionais no receptor, gerando sua dimerização[2] e ativação (o que permite a conversão de GMP em  cGMP). Já o tipo 3 funciona basicamente como um receptor de “limpeza“, uma vez que se liga ao hormônio e o remove da circulação. (A figura acima representa, à esquerda, o receptor do tipo 1.)
O FNA, por ser um peptídeo, tem sua composição de aminoácidos codificada por um gene o qual possui 3 éxons[3] e 2 íntrons. A sequência de bases nitrogenadas inicialmente codifica um peptídeo de 151 aminoácidos, chamado de pré-pró-FNA. A clivagem de uma sequência de 25 aminoácidos da terminação amínica origina o pró-FNA. Depois, uma protease-serina que fica na membrana da célula (o miócito cardíaco), chamada de Corina, cliva uma sequência de 28 aminoácidos da extremidade carboxílica[4], originando o FNA final.
A molécula final contém um peptídeo de 28 aminoácidos com um anel  composto de 17 aminoácidos no meio da molécula. Esse anel é formado por uma ponte bissulfeto entre dois resíduos de cisteína nas posições 7 e 23.

Desse modo, o FNA constitui-se um poderoso vasodilatador envolvido diretamente no controle homeostático de sódio e água no organismo. Assim, ele é capaz de minimizar a pressão arterial e atua de modo inverso à aldosterona, hormônio produzido pelo córtex das glândulas suprarrenais e que induz a um aumento na reabsorção de sódio, provocando maior retenção de água (menor excreção desta na urina), o que aumenta a pressão arterial.

            Nelson, David L.  Cox, Michael M. Princípios de Bioquímica de Lehninger. Porto Alegre: Artmed, 2011.








[1] Esse fato permite classificar o coração como uma glândula.

[2] Dimerização é a formação de um dímero a partir da união de duas unidades monoméricas. No caso de um composto proteico ou peptídico, consiste na união de dois aminoácidos (os monômeros) por ligação peptídica para a formação de um dipeptídeo (dímero).

[3] Éxons são sequências de nucleotídeos de uma molécula de RNA transcrito de um gene (em seres eucarióticos) que permanece após o processo de splicing na molécula de RNA mensageiro. Esse processo consiste na remoção de certas sequências de nucleotídeos, as quais são chamadas de íntrons, após o processo de transcrição.

[4] Quando se formam ligações peptídicas entre dois ou mais aminoácidos, formam-se duas terminações ou extremidades livres (que não se envolvem em ligação peptídica): uma em que o grupo amina está livre e outra em que a carboxila está livre. Essas extremidades pertencem a aminoácidos diferentes.

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